O aborto é definido como a interrupção da gravidez antes que o feto seja viável, ou seja, antes das 20 a 22 semanas de gestação. Existem diversas causas, tipos e abordagens para o tratamento, e entender essas diferenças é fundamental para que a paciente possa tomar decisões informadas sobre sua saúde.
Tipos de Aborto
Existem diferentes tipos de aborto, que variam de acordo com o momento em que ocorrem, os sintomas apresentados e a forma como são diagnosticados e tratados.
1. Aborto Espontâneo
O aborto espontâneo, também chamado de aborto natural, é o tipo mais comum, ocorrendo em cerca de 10% a 20% das gestações confirmadas. Isso pode acontecer por várias razões, muitas vezes fora do controle da mulher. As causas mais frequentes incluem anomalias cromossômicas no feto, que impedem seu desenvolvimento adequado, ou problemas de saúde da mãe, como infecções, doenças autoimunes, problemas hormonais ou anormalidades uterinas.
2. Aborto Incompleto
Esse tipo de aborto ocorre quando apenas parte do tecido fetal é expelida do útero, enquanto o restante permanece. Isso pode causar dor e sangramento prolongados, e em muitos casos é necessário intervenção médica para remover o tecido restante.
3. Aborto Retido
No aborto retido, o feto morre, mas o corpo da mulher não expulsa espontaneamente o conteúdo uterino. Esse tipo de aborto pode ser identificado durante uma ultrassonografia de rotina, quando o batimento cardíaco fetal não é detectado, ou quando a paciente apresenta sintomas como a interrupção dos sinais de gravidez, sem o aparecimento de sangramento.
4. Aborto Habitual
O aborto habitual, ou recorrente, é caracterizado por três ou mais abortos espontâneos consecutivos. Nesses casos, é fundamental investigar possíveis causas subjacentes, como anormalidades genéticas, problemas imunológicos ou anatômicos, para que o casal possa ter uma chance maior de sucesso em futuras gestações.
5. Gravidez Anembrionária

A gravidez anembrionária ocorre quando o saco gestacional se desenvolve, mas o embrião não está presente ou parou de se desenvolver muito cedo. Esse tipo de aborto geralmente é identificado durante um ultrassom de rotina no início da gravidez.
6. Gravidez Ectópica
Embora tecnicamente não seja um aborto, a gravidez ectópica ocorre quando o embrião se implanta fora do útero, geralmente nas trompas de Falópio. Essa condição é extremamente perigosa e requer tratamento imediato, pois pode causar ruptura das trompas e hemorragia interna.
Causas Comuns do Aborto
As causas de aborto são variadas e podem ser divididas em fatores maternos e fetais.

Fatores Fetais
- Anomalias cromossômicas: Aproximadamente 50% dos abortos espontâneos ocorrem devido a alterações nos cromossomos do embrião, que podem ser incompatíveis com a vida.
- Malformações congênitas: Defeitos no desenvolvimento do feto, que podem ocorrer nas primeiras semanas de gestação, também são causas frequentes de aborto espontâneo.
Fatores Maternos
- Problemas anatômicos: Malformações uterinas, miomas, ou outras condições que afetam a estrutura do útero podem dificultar a fixação e o desenvolvimento do embrião.
- Problemas hormonais: A deficiência de progesterona, que é o hormônio responsável por manter a gravidez, pode resultar na perda gestacional.
- Infecções: Algumas infecções, como rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus e infecções bacterianas não tratadas, podem aumentar o risco de aborto.
- Doenças autoimunes: Condições como lúpus ou síndrome antifosfolípide podem levar ao desenvolvimento de trombos nos vasos da placenta, prejudicando o suprimento sanguíneo para o feto.
- Estilo de vida: Fatores como tabagismo, uso de álcool ou drogas, além de exposição a radiações ou produtos químicos tóxicos, também aumentam o risco de aborto.
Sintomas do Aborto
Os sintomas de um aborto podem variar de acordo com o tipo e a fase da gestação, mas os sinais mais comuns incluem:
- Sangramento vaginal: Pode variar de um leve sangramento até uma hemorragia intensa.
- Dor abdominal ou nas costas: Geralmente é descrita como uma cólica forte e persistente.
- Ausência de sintomas de gravidez: Em alguns casos, a paciente percebe uma diminuição nos sintomas típicos da gravidez, como náuseas ou sensibilidade mamária.
- Febre: Quando acompanhada de outros sintomas, a febre pode ser indicativa de uma infecção associada ao aborto.
Diagnóstico do Aborto
O diagnóstico de aborto é feito através da combinação de exame clínico, ultrassonografia e dosagem hormonal.
- Exame clínico: O médico avalia a paciente, buscando sinais de sangramento, dor e dilatação cervical, que podem sugerir o risco de aborto iminente.
- Ultrassonografia: A ultrassonografia transvaginal é o exame mais eficaz para confirmar a presença de batimentos cardíacos fetais e o desenvolvimento do embrião. A ausência de batimentos após seis semanas de gestação ou a presença de saco gestacional vazio são indicativos de aborto.
- Dosagem hormonal: O nível do hormônio beta-hCG (gonadotrofina coriônica humana) pode ser dosado no sangue para avaliar se a gravidez está progredindo normalmente. Uma queda nos níveis de beta-hCG pode sugerir um aborto.
Conduta Expectante e Conduta Cirúrgica
Após o diagnóstico de aborto, a conduta médica pode ser expectante, medicamentosa ou cirúrgica, dependendo do estágio da gestação, do tipo de aborto e das condições de saúde da paciente.
Conduta Expectante
A conduta expectante envolve esperar que o corpo da paciente expulse o conteúdo uterino espontaneamente. Isso pode ser uma opção segura para muitos casos de aborto espontâneo precoce, principalmente quando não há sinais de infecção ou complicações. O médico monitora a paciente com ultrassonografias regulares para garantir que o aborto seja completo. Esse processo pode levar algumas semanas.
Durante a espera, é importante observar sinais de complicações, como febre, sangramento excessivo ou dor abdominal intensa. Se esses sintomas ocorrerem, pode ser necessária intervenção médica imediata.
Conduta Medicamentosa
Nos casos em que a paciente prefere evitar a cirurgia, mas o aborto não ocorre naturalmente, a conduta medicamentosa pode ser indicada. O uso de medicamentos como misoprostol promove a contração do útero e a expulsão do conteúdo gestacional. Esse método é eficaz em cerca de 80% dos casos e é mais utilizado em abortos com até 12 semanas de gestação.
Conduta Cirúrgica
Quando o aborto é incompleto, retido, ou quando a paciente apresenta complicações como infecção, pode ser necessário um procedimento cirúrgico para remover o tecido restante. Os métodos mais comuns são a curetagem uterina e a aspiração a vácuo.
- Curetagem uterina: Esse procedimento é realizado sob anestesia e envolve a raspagem do revestimento do útero para remover o tecido remanescente.

- Aspiração a vácuo: Nesse método, um dispositivo é inserido no útero para aspirar o conteúdo. Ele é menos invasivo e geralmente tem um tempo de recuperação mais rápido que a curetagem.
Considerações Finais
Entender o aborto é essencial para o acompanhamento adequado da paciente. Cada caso é único, e o tratamento deve ser individualizado, levando em consideração a saúde física e emocional da mulher. Conversas abertas com o médico, além de suporte psicológico, são fundamentais para garantir o bem-estar durante todo o processo.
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